Dia 2 de novembro – Deixamos o hotel às 9.30 h rumo a Dharamshala e McLeodganj, o Pequeno Tibet, passando por cidades e vilas no caminho. 5 horas de viagem.
Não preciso dizer que o trânsito é doido em qualquer lugar na Índia. Aliás, você só pode dizer que é motorista depois de dirigir aqui e não bater. Nosso motorista quase me matou de tantos sustos. De repente vinha um carro ou um caminhão na nossa direção e ao lado, outro carro. Ambos correndo um contra o outro. Como é mão inglesa e vou na frente pra conversar com o motorista, passo tanto sufoco que o fiofó fica que não passa nem fio de cabelo de nenê feito a ponta! Sério!
Dharamshala fica na base de uma montanha e McLeodganj, onde está nosso hotel, fica a 10 km, no alto. Kim foi ficando nervosa porque nunca chegávamos e sempre subindo.
- Colega, você é louca? O que você veio fazer aqui?
- Sabe que nem eu sei! Se eu descobrir a resposta eu lhe conto.
Verdade, ainda não sei o que vim fazer aqui. Olhando para cima, subindo e subindo, vendo que a montanha se tornava mais fria e até chovendo, fiquei preocupada. Estará um frio do cacete e eu tirei tudo de frio da mala. Levei para o Nepal e lá estava um calor do peru. Agora venho pra cá e tem até chuva. Lasquei-me!
Começou a novela. Quiseram nos dar o melhor quarto do hotel, como se fosse possível, mas fica no 4º andar, pelas escadas. Chegamos em cima com um palmo de língua do lado de fora. O convencimento seria a vista que teríamos do terraço. De fato. Mas não convenceu a Kim. Preferiu ficar em um quarto menor no 1º andar.
Já 15.30 horas não havia mais almoço, mesmo assim fizeram um frango frito com alho e arroz com legumes que tem sempre. Pelo menos a comidinha foi feita na hora.
Não podendo fugir do inevitável, saímos para bater pernas e comprar um xale de lã. Não é que a lã de Yak não me deu alergia?! Estou aqui quentinha com um xale bonito e barato.
Centro comercial de McLeodganj |
E o melhor. Neste momento nosso motorista nos dá massagem nos pés. Assim eu vou pra galera! Motorista massagista não é pra quem quer. É pra quem pode! hahahahaha
Jisuuuuuus, que água mais gelada é essa? O aquecedor não consegue esquentar a água. Tomei um banho de gata, lavando mesmo só as partes essenciais. Eu me recusarei a tomar banho amanhã. Nem por decreto do Dalai Lama, prometendo salvação segura, com certificado assinado por ele. Só o farei em Delhi.
Não apareceu o guia até a hora de sairmos. Primeira visita foi ao Pequeno Tibet, onde há o monastério e templos de Buda, templo de Avalotskevara e Tara Verde. Há um aviso para que não se tire foto. Entretanto, muitos indianos estavam fotografando e dei uma de mariazinha sem braço. Fotografei também. Bom mesmo foi ver os monges – alunos – praticando. E aquela monja velhinha que passou por mim com os lábios pintados de batom?
Templo Budista Tibetano, ao lado da residência do Dalai Lama |
Rodas de Oração |
Avalotskevara cuja foto insistiu em ficar de lado |
Esse dog ai é muito "safo". A todo instante ele ia até à cozinha e sempre voltava com um petisco.
Kim havia decidido entrar no templo, mas no último minuto ela arrumou uma dor de barriga – nervosa por entrar um templo que, pra ela é mesmo que ir pro inferno - e foi uma novela arrumar um rest room. Tive que sair com ela e arrumar um. Bom, pelo que vi da entrada, era a visão do próprio inferno. Ela foi sozinha, porque eu voltei para o templo.
Nós, pobres mortais, não temos acesso à residência do Dalai Lama. Só fiquei sabendo que há um portão de acesso, por dentro do monastério.
Milagres acontecem. Ao meio dia apareceu a margarida. Ou melhor – o guia. Quando eu já havia visitado os templos. Fazer o que?
A próxima visita foi ao Chamunda Devi Temple. Como todo templo indiano, bem sujinho. Estou ficando paranóica. Meus pés ficam coçando depois de visitar templos indianos. Vontade de lavar os pés com álcool, mas não encontro. Portanto, fica a dica. Se você vem a Índia, traga álcool em gel para essas limpezas.
Em seguida, visita ao Norbulinka Institute que promove e preserva a cultura tibetana no exílio. Arrumadinho o jardim no estilo japonês e almoçamos por lá mesmo. No Instituto há oficinas de bordados de panos, marcenaria onde são feitos trabalhos entalhados, esculturas em bronze, pinturas em tankas. Há também um templo no interior.
Bom, até agora, ainda não descobri o que vim fazer aqui, mas, voltando ao centro de McLeodganj, a Escócia indiana, onde está nosso hotel, em uma loja vi algo que foi amor a primeira vista. Um bastão de cristal bem diferente. Examinei a ponta e estava quebrada. O dono da loja mudou e o trouxe comigo. Vamos ver no que vai dar.
Aproveitei para comprar os itens encomendados pela Iohannah. Um caderno, um Buda e postais.
Kim está com a macaca. Resolveu reclamar do edredon que foi trocado por outro mais sujo e, por cima, rasgado. Me embucetei e peguei o edredon e desci com ele escada abaixo até a recepção. Quando mostrei ao funcionário de serviço, ele saiu correndo escada acima apurado – trocarei imediatamente, madame.
Sabe quando a emenda fica pior que o soneto? Pois foi. Quando o funcionário tirou a fronha do travesseiro, quase caí pra trás. Era pretinho – de suuuujo e mofo! E pensar que eu dormi com essa coisa ontem à noite. Estava muito cansada mesmo!
Há quartos melhores que esse e até pedi para que trocassem. Alegaram que estavam já reservados. Tá que nos ofereceram um quarto mas era no 4º andar e aqui sofremos com a altitude. Kim sentiu a altitude de imediato. Se eu senti, imaginem ela.
Vou contar o nome do lugar – Spring Valley Resort. Fotografei para não copiar a decoração. A única coisa limpa, pasmem – é o chão do banheiro.
Dia 4 nov – Levei um susto logo cedo. Desci para levar uma sacola para o carro e chamar nosso motorista – Dilbagh – para tomar café. Ele é muito humilde e cerimonioso. Se não insistirmos, ele não senta conosco. Aliás, ontem à noite, quando jantávamos, ele estava se servindo e o maitre veio saber se ele estava conosco.
Sim, ele está conosco e é para serví-lo.
Então, quando cheguei ao estacionamento, na calçada do hotel, Dilbagh estava arrumando a calça. Coloquei a sacola e me virei. Bem a tempo de ser surpreendida por uma cena inusitada. Dilbagh havia tirado a calça e estava de cueca e camisa, os cambitos à amostra, na maior naturalidade. Calmamente vestiu a calça do uniforme de motorista como se nada estivesse acontecendo. Segurei o riso que a cena provocou e subi correndo pra contar para Kim. Pena que não estivesse com a câmera na hora. Juro que era uma cena digna de registro.
Deixamos McLeodganj às 10 horas da manhã. O aeroporto fica em Kangra, a uma hora de carro.
Passamos por uma parte do caminho já percorrido quando viemos de Amritsar.
No caminho, uma macacada (babuínos) tomava banho de sol. Era divertido ver como alguns ficam lagarteando, enquanto as companheira os catam. Dá pra ver o prazer que sentem nas caras deles.
Falando em babuínos, ontem, no templo do complexo de Kangra, uma mamãe babuína abordou, literalmente, um homem que comia melancia. O homem deu um pedaço a ela. Não contente, a mamãe pediu outro. Atendida, afastou-se, entregou um pedaço a um babuíno e subiu na árvore dando o outro pedaço ao filhote.
E dizem que os animais não pensam. Uma ova!
Dilbagh ao se despedir de nós, chorou, tadinho. Disse que o coração dele já estava doendo de saudade e tocou nossos pés, em sinal de respeito.
Surpresa! O aeroporto é arrumadinho, limpo, e cheio de turistas também arrumadinhos. Nada de hippies ou passageiros mulambentos.
Toiletes para passageiros super limpo. Só não esquecem dos quilos de naftalina, que é usada como bom ar. Arre! Meus lábios ficam inchados com o cheiro e começo a espirrar.