sábado, 30 de julho de 2011

MACHU PICCHU

Todo mundo já escreveu toneladas de artigos sobre Machu Picchu. Não serei repetitiva, mas, permitam-me dizer – UUUUUUUAAAAAAAAAAAAUUUUUU!!!
Pode ter sido por toda expectativa gerada desde sempre e acentuada quando decidi passar meu aniversário por lá. Isso cresceu à medida em que os dias passavam e eu não conseguia comprar as benditas passagens para Águas Calientes. Mais ainda quando, em Cusco, também não consegui nada, com a frustação das promessas do “quase golpista” da agência de turismo. Mas não entrego os pontos, mesmo com toda conspiração dos deuses incas. Está certo. Tive que me render aos caprichos deles e visitar primeiro o Vale Sagrado.
JISUUUUUUUUUUUUUUUUSSSSS. Confesso que me dei conta de que não vi nada do Vale Sagrado. Só tive um vislumbre. Desculpinha pra voltar.

Então. Voltemos à novela. O pilantra do dono, gerente, sei lá o que, da agência contratada, depois de jurar por todos os santos que sairíamos do hotel às 6.20 horas da manhã do dia 13, de última hora liga para dizer que iriam nos apanhar as 8.20 horas. Com os costumeiros atrasos dos cusquenos, alguém apareceu apressadinho e nos jogou dentro de um táxi caindo os pedaços. Coisa mais comum em se tratando de Peru. Rodamos pela cidade e lá fomos jogadas dentro de uma van não tão confortável, mas funcionava como táxi entre Cusco e Ollantaytambo, com um papel na mão. Era nosso ticket de trem só de ida de Ollantaytambo para Águas Calientes e a recomendação de que na estação de águas Calientes estaria uma guia para nos levar a Machu Picchu. “Podem ficar tranquilas. Ela estará com uma placa com seus nomes”. O caramba!
O serzinho é tão “mala” que nos deu os tickets com a data e hora em que foram comprados. Ou seja, no dia anterior, depois das 21 horas! Pilantra!
Ele não honra o famoso adágio inca: Ama sua, ama llulla, ama qella -  Significa: ‘Não roube, não seja preguiçoso e não minta.’

E haja rodar. Saímos de Cusco e tomamos a estrada. Em Ollantaytambo, quando todos já haviam descido da van, toca o motorista para a estação de trem e lá nos despeja com o aviso. “Tem alguém esperando vocês em Águas Calientes”. Reconfortador!
Agora seria apenas esperar o trem pacientemente. Fiz os cálculos e só estaríamos em Machu  Picchu às 14 horas. O que iríamos fazer tendo apenas 3 horas para visitar Machu Picchu? Xinguei o pilantra até a sua última geração. Se praga pegar, ele estará lascado pelas sete próximas encarnações.
Finalmente o trem. A princípio, a carinha dele não me inspirou confiança. Pareceu-me bem velho, bem velho oeste e não o charmoso vistadome que eu tanto sonhei. Hora de embarcar e...surpresa! não é que o velho trem é bem confortável? Bancos de couro! Janelas amplas, janelas no teto e bem dentro do clima de você viajar pelo Peru. Um trem na Rail Inka! Apenas 3 vagões e o nosso era o da máquina. Com direito a “trem-moço” e snacks. Minha filha foi até pedida em casamento. Ficou noiva ali mesmo! Por sorte, um casal de brasileiros, de BELZONTE, Giovana e Bruno, sentaram à nossa frente e tome conversa, assegurada com outros chilenos farristas  - Cristóbal e Carlos, jogadores de futebol, que logo se aboletaram ao nosso lado e nem vimos o tempo passar.
Estação de Ollantaytambo

Será que esse vovô ai atrás chegará a Aguas Calientes?

Novo amigo chileno - Cristóbal

Iohannah ficando noiva rsrsrs
Conforto do Rail Inka
Giovana e Bruno de BELZONTE




A paisagem do lado de fora era simplesmente extasiante, seguindo o rio Urubamba ou Vilcanota. Do outro lado do rio, era possível ver grupos que faziam a trilha inca, com suas mochilas às costas. Eu, hein? Nessas horas a-dôooooooo-ro um conforto!





Águas Calientes. Estação. Ninguém. Bateu um desespero! Uma descrença no ser humano... Saímos da estação e nada. Voltamos para a estação em busca de um telefone para xingar o pilantra. Ouvi meu nome. Alguém me chamava do lado de fora. Eram os mineiros. Uma guia gritava por FRANCISCO BORGES! Caceeeeeeta! Pura sorte! Chorei de raiva, mas, enfim, havia uma luz no fundo do túnel.

Confirmei o que mais temia – só teríamos 3  horas em Machu Pichhu. A guia ainda quis me consolar dizendo que o passeio guiado durava apenas duas horas e que deveríamos estar de volta a Águas Calientes às 17 horas, pois nosso trem sairia às 18.45 horas. Em Ollantaytambo estaria alguém nos esperando pra nos levar de volta a Cusco.
Caramba... para ser assim, eu não precisaria ter pago 360 dólares. Teria feito tudo por minha conta. E bem mais barato. Enfim, chapéu de trouxa é marreta! Aprendi o caminho das pedras.
A guia nos jogou dentro de um micro ônibus com o aviso de que um guia – Jonathas -estaria nos esperando no ponto final, ou seja na entrada do parque. Assim foi e menos mal.

O micro ônibus saiu serpenteando pelo caminho estreito subindo a montanha. Por vezes passava tirando fino nos precipícios. Eu, à janela do ônibus, cortando prego! Resolvi que não ficaria preocupada com esse mero detalhe, já que  quem morria de véspera ERA peru. Agora ele morre com 3 meses de antecedência. Melhor ficar olhando os vales. Cada coisa liiinda! Deusinho foi muito generoso quando fez o Peru. Caprichou no visual.



Aqui abro um parênteses para umas dicas. Você não precisa entrar no parque carregando toda sua tralha. Há um locker na entrada e mediante 5 soles você deixa tudo guardado. Aproveite para visitar a casinha, pois dentro do parque não tem moita.

Bom, pelo menos uma coisa boa nos conteceu – Jonathas. Ele buscava mais clientes para poder ganhar um trocado a mais. Não apareceu ninguém, mesmo porque já era “final de feira” e a muvuca dos visitantes já estava saindo e não entrando. Assim, Jonathas ficou só conosco. Um guia só pra nós. Prometi a ele uma propina (gorgeta) ao final do passeio e correu tudo maravilhosamente. Pedi a ele que não tivesse tanta pressa, pois eu tenho limitações para subir tantas escadas às pressas.
 Entramos no parque enquanto a maioria do pessoal já saia e deixava tudo claro, vago pra nós, sem multidões nas fotos, nos caminhos, guias disputando os lugares, turistas esbarrando na gente. E aquela engraçacinha, loura de farmácia, que queria que saíssemos do lugar porque o bucho queria fazer pose pra foto? Lembrei a ela que eu também havia pago para entrar. Portanto, só sairia quando EU terminasse de tirar as minhas fotos. Tem gente que não se enxerga.
Chegando perto

O primeiro caminho que pegamos, íngrime, parei trocentas vezes, feito peixe fora dágua e não havia folha de coca que aliviasse. Depois de uma longa e tenebrosa subida – aaaaaaaaaaaaai, maravilha! Machu Picchu aos nossos pés!
Primeira visão



Gente, não deu pra controlar. Caí num choro de emoção, pura emoção! Por mais que todo mundo descreva, não há palavras que coloquem o que a gente sente. Não há fotografia que mostre a emoção. Nada, nada, nada. Só estando lá pra sentir em cada átomo que nos constitue. É um misto de benção, euforia, de saudade, de... ai, eu já vi isso, já estive aqui, eu quero mais. Congela este momento. Não quero ir embora... Estou catando as palavras e elas não saem...Caraaaca!
Fiquei ali, deliciando aquele momento, sem menhuma pressa de descer até acordar do doce torpor e querer ver tudo, tocar, sentir, pisar, vibrar junto. Conversar com as pedras, os muros, o chão, o ar, os vales, o sol. É tudo tão vivo, pulsante, vibrante... e ao mesmo tempo – atemporal! Doideira. Só pode ser reação das folhas de coca – um baratinho qualquer!
Bem devagar fomos nos preparando pra descer para as construções, mas Jonathas tinha outros planos – ele tinha que fazer o papel dele – contar a história do império inca, do lugar. Ouvimos pacientemente, sentadas na grama, aproveitando uma sombra projetada por umas pedras.
Hora de explorar tudo. Fotografar tudo. Registrar tudo, até fazer carinho numa llama, conversar com ela e dar beijinhos estalados  para que ela não cuspa na gente. Eca! Mas ela, a llama, até que fez poses. Simpatiquinha.

Templo do Sol. Templo das Três Janelas, lugar onde os sacerdotes meditavam, com janelas em forma trapezoidais, onde eles mantravam e a Pachamama respondia. A pedra de 24 ângulos. Ara sagrada. Casa da Sabedoria. A praça. Templo do Condor. Intihuatana onde se amarra o sol...





Templo do Sol

Templo do Sol

Terraços

Templo das Três Janelas


Intihautana


Aproveitando que o vigia olha para o outro lado

INTIHAUTANA
Uma das principais funções Machu Picchu era a de ser um observatório astronômico. A pedra Intihuatana  que significa  “amarrar o sol” tem demonstrado ser uma indicadora preciso da data dos dois equinócios e outros significativos períodos celestial. O Intihuatana (também chamado de Saywa Sukhanka ou pedra) é projetada para engate do sol nos dois equinócios, e não no solstício (como é dito em alguma literatura de turismo e new-age livros). Ao meio dia de 21 de março e 21 de setembro, o sol está quase diretamente acima do pilar, e não há nenhuma sombra. Neste preciso momento o sol "senta-se com todo o seu poder sobre o pilar" e é por um momento "amarrado" à pedra. Nestes períodos, os incas realizavam cerimônias na pedra em que se "amarrava o sol" para deter seu movimento para o norte no céu. Há também um alinhamento em Intihuatana com o solstício de Dezembro (o solstício de verão do hemisfério sul), quando ao se por, o sol se põe atrás Pumasillo (garra do Puma), a montanha mais sagrada da faixa de Vilcabamba ocidental, mas o santuário, em si, é basicamente equinocial.









Aqui os sacerdotes meditavam e mantravam




Minha cabeça dava saltos, ziguezagueava, pulava de um templo para outro. De um lugar para outro querendo captar, absorver e arquivar tudo ao mesmo tempo e não perder nada. Tocar no que podia ser tocado – até mesmo nos que eram proibidos, como a Intihuatana, aproveitando o descuido do vigia. 

Adentrar no labirinto do Templo do Condor. Fazer uma oferenda ali, em silencio, seguindo o rito do nosso guia Jonathas. Ah, dessa vez não esqueci que trazia folhas de coca na bolsa. 

Templo do Condor

Jonathas nos ensinando a preparar a oferenda ao Condor

Altar de oferendas ao deus Condor

Iohannah preparando sua oferenda

Ficar sentada, em silencio bebendo a paz do lugar, em passado distante-presente na praça, onde  há hoje, apenas um pedaço de um monólito que se rebelou ao ser retirado para ser exibido aos reis da Espanha.
Era um monolito. Foi quebrado quando tentaram removê-lo para ser levado aos reis de Espanha, que visitavam o Peru e não quiseram ir a Machu Picchu. Um grito do lugar sagrado


Ver o Templo do Sol por outro ângulo, já que não é permitida a entrada no recinto. Andar por caminhos tão antigos. Olhar as montanhas e vales ao redor e o velho inca, impassível, a tudo assiste. Assiste a mim, forasteira teimosa, birrenta que fica muda, travada, passada de emoção e abre todos seus poros para absorver toda energia que emana desse lugar. Como se fosse um buraco negro, procuro trazer para dentro de mim essas energias telúrica e etérica. Passado, presente e eternidade.
Hora de voltar. Mil vezes me virei para ver Machu Picchu mais uma vez. Uma velha simpatia para retornar ao lugar visitado. Tomara que dê certo, porque deixei parte de minha alma em Machu Picchu. Finalmente os deuses incas sorriram.
Casa da Sabedoria ao fundo


Agradecimentos

Sistema de fechadura dos portões



Retorno a Cusco.
Jonathas nos acompanhou até Águas Calientes e lá, fazendo hora olhando lojas, encontramos com Cristóbal e Carlos. Mais uma festa. 



Fotos, trem, barracas com todos artesanatos para, finalmente, aguardar na sala da estação, cheia de gente com a mesma idéia: Descansar um pouco. No meio da muvuca o que mais se ouvia era português bem brasileiro e melhor – goiano! Encontramos uma turma do pequi, do pão de queijo com café e foi outra festa com direito a fotos e muitas gargalhadas, todo mundo falando ao mesmo tempo e se descobrindo, descobrindo amigos em comum. Brasileiro é assim – faz festa por tudo. Assim foi até a hora de embarcarmos. 
Turma do Pequi - só goianos na estação de Aguas Calientes
Na volta tive direito a um companheiro de viagem inglês, rodando meio mundo. Nem me pergunte o nome dele. Nem tive como descansar na viagem. Excitada, energizada, elétrica.
Chegar a Ollantaytambo foi um terror! De onde surgiu tanta gente? Impossível que todos estivessem no trem. Não havia lugar para se colocar um alfinete. Se você levantasse um pé, correria o risco de não encontrar lugasr para colocá-lo de volta ao chão. Até entender que ali estavam os passageiros que chegavam de Águas Calientes e os que iriam para lá, demorou um pouco para a ficha cair. E como iríamos encontrar o tal guia que nos levaria a Cusco? Deu até frio no estômago. Juro que me senti em um corredor de bois. Espaço estreito, muita gente, motoristas de táxi oferecendo seus serviços – 10 soles por pessoa para Cusco - torre de babel. Jisuuuuuuuuuuus! Pois não é que no meio de toda confusão vi meu nome numa placa? Aaaaai, meus deuses! Nem acreditei. Estávamos salvas.
20 minutos depois era o maior deserto! Foram-se os que chegaram e foram-se os que se destinavam a  Águas Calientes. A minúscula Ollantaytambo vive minutos de cidade grande todas as noites, naquele horário do trem.
Finalmente todos passageiros foram resgatados e colocados em um micro ônibus e rumamos para Cusco, onde chegamos por volta das 23 horas. Tudo que eu queria era um banho quente. Mas, engraçado. Eu não  estava cansada. Só não tinha  mais ânimo para sair e jantar. Não com aquele frio todo lá fora.  Ficaria satisfeita com uma sopinha de emergência – sempre viajo com  os saches e claro, o mergulhão. Carlos nos salvou dessa e pude dormir com o estômago quentinho. Com a sensação de dever quase cumprido.

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