terça-feira, 7 de abril de 2015

UDAIPUR

UDAIPUR

O hotel – Rampatrap Palace - era até simpatiquinho, lembrando algo de antigo. Relativamente limpo para os padrões indianos. O bom mesmo era o jardim com o lago Fateh Sagar à frente.





Depois de uma relaxada, vamos à farra. Nesta noite tem a festa da Holika. Gravetos, palhas, são vendidos para que os festejadores montem suas fogueiras. Um poste é colocado no encontro de duas ruas e os gravetos e palhas são acomodados de forma que peguem fogo praticamente de uma vez, restando apenas a madeira da base para queimar.
Contratamos um tuk tuk para nos levar pela cidade. Só não sabíamos que o tuktukeiro era um PK. Quando ele disse  nome dele – PK – não resisti. Dei uma tremenda gargalhada ao me lembrar do filme do Aamir Khan – PK, que é a referência para alguém que é pinguço e, de fato, nosso destino estava nas mão de um pinguço que exalava canicilina por todos os poros e disparou com seu tuk tuk, com 6 pobres brasileiros, virgens das emoções de uma viagem vertiginosa por ruas estreitas, esburacadas, sem desviar de nada, a toda velocidade. 6 Brasileiros espremidos num tuk tuk. Nem dava pra acreditar, mas, afinal, tudo era aventura. Finalmente o PK nos despejou em um templo vazio que ele jurava que lá tinha festa. A algum custo, conseguimos convencê-lo a procurar algum lugar onde houvesse uma fogueira.









Encontramos uma fogueira que ainda seria acesa e fomos encostando, fotografando, anotando tudo. Ao redor da base da fogueira, é traçado um círculo, e vasilha com flores, água, incenso são colocados na frente de duas almofadas. Nossas presenças chamaram a atenção dos moradores da rua, dos promotores da festa. Entendemos que várias famílias se juntaram para comemorar. Essa celebração antecede ao Holi e se assemelha à nossa queima do Judas, misturado como a fogueira de São João. A juventude furta pequenos objetos para serem queimados na pira de Holika.
A origem dessa tradição pode ser explicada como sendo a morte de Holika, irmã do rei asura, Hiranyakashyapu, (que odiava Vishnu e queria ser adorado como um deus), que tentou matar seu sobrinho Prahlad, devoto de Vishnu. Outra explicação, segundo um dos senhores com quem conversei, naquele fogo queimamos nossos pecados, queimamos tudo de ruim que aconteceu, pois está começando um ano novo. Um ano novo lunar. O Holi celebra também a entrada da primavera, pelo calendário lunar.
A essa altura, muitas pessoas, a começar pelas molecada, já haviam se tornados amigos, íntimos e todos queriam ser fotografados. Viramos atrações para a festa e participamos dela não só na celebração, como nas COMER-morações. Hahahaha
O ritual começa com pandites rezando, oferecendo incenso, a dona da casa oferece água, (alguma coisa foi colocada como combustível, talvez gheer). Terminadas as oferendas, um pandit acendeu uma tocha e ateou fogo na estrutura que ardeu rapidamente.
Esse ritual simboliza a vitória do bem sobre o mal. 

Em uma destas explicações que encontramos a mais provável origem do Holi e porque o festival é chamado de Holi: Numa tentativa particular de atentar contra a vida de seu filho Prahlad, o rei Hiranyakashyapu chamou a sua irmã Holika, para ajudá-lo. Holika tinha um dom especial que evitava que ela se ferisse no fogo. Assim o rei Hiranyakashyapu pediu a ela para se sentar na fogueira com Prahlad em seu colo, na esperança disso matar Prahlad. Mas como anteriormente, Prahlad não se preocupou e chamou o nome de Vishnu e não foi ferido, mas Holika foi queimada viva. 
A bem da verdade, em algumas regiões, entende-se que Holika tentou proteger Prahlad e o cobriu com seu o manto, mas  a maiora do entendimento é que Holika era uma asura e tramou , com seu irmão, a morte de Prahlad, que foi salvo por interferência de Vishnu. Para acabar com os desmando de Hiranyakashyapu, Vishnu encarnou como Narashima.



Do nada, apareceram uns 20 estrangeiros de penetras, como nós. Talvez eles também estivessem à procura de algum ritual.
Findo o fogo e restando a queima da madeira de base, as pessoas vinham com galhos de uma gramínea que contém uma vagem, como amendoim, faziam seus pedidos e colocavam  a grama na fogueira. Não se pode simplesmente atirar a grama na fogueira.
Em seguida, as pessoas dão três voltas no círculo fazendo seus pedidos para o ano novo. E eu, que não sou besta, fiz minhas voltinhas e meus pedidinhos, né?

Agora veio a parte doce. Os anfitriões destribuiram sorvetes, bolos, doces...
E tome poses para fotos, abraços, troca de endereços.... mas a barriga roncava. Só aí lembramos que não havíamos almoçado, já 10 horas da noite.
PK foi a nossa salvação. Ele estava colado em nós, vendo em nós o recheio para sua bolsa e a promessa de muitos tragos. Explicando por gestos que queríamos comer, PK nos levou a um restaurante, como sempre, percorrendo um caminho louco, fazendo os pobres dos cachorros sonolentos correrem de suas camas quentinhas.
Ai, caramba. Lascou! O restaurante que o PK nos levou tinha um jardim com mesas à luz de velas, muito chique. O preço deveria ser de acabar com  nosso pobre dinheirinho logo na primeira noite indiana.
Mas entramos de cabeça erguida.
Pedimos uma mesa para 6. Garçons obsequiosos correram para nos servir e eu me senti uma marani.
Os preços das comidas – todas “no spice, no chili”, com todas as garantias que não seriam apimentadas – nunca acredite nisso. Não existe comida sem pimenta na Índia. A não ser que você seja amigo do dono do restaurante.
Os preços foram motivos para muitos cálculos, muitas conversões. Mas seguindo a filosofia de que quem converte, não se diverte, vamos comemorar.
O jantar foi supimpa e ao final, ficamos satisfeitos com o preço total. Na verdade foi onde melhor comemos e mais barato pagamos em toda nossa viagem.
Ainda bem que o hotel fica perto e fomos andando por uma Udaipur já calma, encontrando um ou outro cachorro pelo caminho e rapazes de moto, já festejando o Holi.

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