domingo, 26 de maio de 2013

ARRIBA, MÉXICO!



O destino escolhido para este ano foi o México. É, depois de um fiasco, de tantas notícias sobre o final do mundo, resolvi vir tomar satisfação com os maias, mas, tadinhos, eles não fizeram nada. Na verdade algum doidivana interpretou como lhe aprouve e como derrotista, tascou uma data para o final deste mundinho de meu Deus, dos  meus deuses (ainda não me acostumei com os nomes dos deuses astecas, maias, olmecas...) Enfim, um doidão leu, mas não entendeu nadica do tal calendário maia. Ops...calendário maia? Mas o que nos mostram , aquele mais conhecido com trocentos símbolos e uma cara no meio, zangada, dando língua, na verdade é um calendário AZTECA! Santa ignorância.

Bom, mais uma vez meu mano Carlos se juntou para essa nova aventura que, de início já vinha sendo programada com a participação da minha filha Io. Aproveitei milhas e a "bondade" da TAM. Zás! Fechei rapidinho quando os trechos a 20 mil milhas foram oferecidos. Eu estava mesmo de butuca. Só esperando.

Ai vem o frisson de pesquisas e reservas.
Tudo prontinho, só marcar o aeroporto de Guarulhos como ponto de encontro, ainda mais que a TAM bagunçou nossos voos. Importa que, ao final, tudo deu certo e nosso voo partiu de São Paulo às 9.45 h do dia 02 de maio, pelas mãos firmes da Comandante Claudine. 



Tão pensando o quê? Mulheres poderosas mandam até nos ares. Pois é. A Comandante Claudine estava ali para nos conduzir à terra dos maias e astecas. Conheci-a à porta da aeronave e sua simpatia me deu espaço para registrar o encontro.

Mas nem tudo foram flores. Para o desconforto de muitos, inclusive meu, alguns passageiros de Ghana, 10 ao todo, lutadores de Taekwondo que, pelo cheiro nunca tomaram banho e nem sabem da existência de desodorante, pasta de dente e higiene, aboletaram-se ao nosso lado e – sim, sim – o ar tornou-se irrespirável. Alguns passageiros tapavam os narizes com os travesseiros, acintosamente. Outros RECLAMAMOS com resmungos e outros mais pediram para trocar de lugar. Resistimos heroicamente por quase 10 horas dentro da aeronave.

Com muitos reclames resistimos à dura prova e depois de 9 horas de voo, pousamos suavemente no moderno aeroporto Benito Juarez, em Ciudad de México,DF.


Esperar nossas malas foi mais um sacrifício do qual já havíamos sido avisados. A fiscalização no aeroporto é rigorosa e todas as malas são revistadas. Ih, Cacilda, danou-se! Eu viajo com meu capuccino, tempero, sopinhas, chás, até pão de queijo dessa vez, mas escapei da fiscalização. Carlão não teve a mesma sorte. Quis me agradar e trouxe de Fortaleza algumas deliciosas mangas rosa que foram apreendidas pela fiscalização no aeroporto. Sniiiiiiiiiif

Seguindo as dicas apanhadas em outros blogs, contratamos um táxi a preço fixo e depois da Io se despedir de seus amigos que viajaram no mesmo voo, rumamos para nosso hotel, na Zona Rosa. O Eurostar.

De tanto ler sobre  o caos que é o trânsito mexicano estava bem apreensiva, mas, qual não foi minha surpresa ao constatar que o caos mexicano é até organizado. Para quem viu e encarou o trânsito indiano, qualquer coisa na face da Terra  é organizado. Nem demoramos tanto para chegar ao hotel, passando por largas avenidas, tudo limpo, tudo bonito, para minha surpresa, que esperava uma cidade bem... suja, considerando ser a segunda mais populosa do mundo. 

Passamos por uma provinha pelo Paseo de La Reforma, pelo centro financeiro mexicano e tudo que víamos nos surpreendia e agradava. Não enfrentamos rush no trânsito e logo chegamos o hotel, escolhido por ser amplo, próximo ao metrô, com muitos restaurantes, vendas e tudo que precisamos por perto. O hotel é confortável.

Tá, a Zona Rosa é , digamos, alternativa. É um bairro conhecido por ser reduto dos gays. 

Exaustos, só queríamos um banho. Nem descemos para jantar. Capuccino e pão de queijo que escapou à fiscalização. Capotamos.

Nosso plano inicial era visitar primeiramente o Museu Nacional de Antropologia mas, pasmem, aquele intrometido do Barac Obama decidiu vir ao México justamente hoje e sua visita ao Museu Nacional de Antropologia é exatamente agora de manhã. Em suma, frustrou nosso passeio, já que o lugar está cercado de policiais e fechado a pobres mortais. Empata phoda!

Well, well, saída pela esquerda. Segunda opção para passeio de hoje – Zócalo!

Partimos para nosso primeiro desafio – o metrô mexicano. Cada viagem custa 3 pesos, qualquer coisa em torno de 60 centavos de reais.

 Mentira! Nem foi tão ruim assim. A estação Insurgientes é a mais  próxima do hotel e tem uma particularidade – bem no seu centro há uma cúpula de fibra de vidro e descobrimos, por acaso, que se você se posiciona abaixo do centro da cúpula, tudo que você fala reverbera. Acústica perfeita. Todos os presentes ouvem o que você está falando. 






Fácil demais se guiar pela malha do metrô. Olhem que legal, como há muitas pessoas que não sabem ler (constatamos isso depois), as estações tem um sistema de figurinhas, de desenhos que identificam  as estações.  Facin, facin.
Ah, outra surpresa – metrô limpo! Tanto as estações quanto os carros.

 Zócalo é o centro da cidade. A Praça da Constituição, enorme praça onde estão a Catedral Metropolitana do México, a maior Catedral latino americana, o Palácio do Governo, O Palácio da Justiça, galerias de ouriversarias, restaurantes, formando um quadrilátero. Ao lado da  catedral estão as ruínas do templo asteca – El Tiemplo Mayor.


Saindo da estação Zócalo, caímos ao lado da Catedral. Realmente imponente. A primeira entrada foi na capela ao lado. Ainda era cedo e pouca gente transitava por ali. 



Percebe-se o desnível da construção que ora afunda


Eba! Pode-se fotografar dentro da igreja, desde que não use flash. Justo e Perfeito! E quase Regular se a igreja não estivesse afundando. hehehe
E não é que a igreja está mesmo afundando! A turma aqui, cabreira, já instalou até um grande pêndulo no meio da nave só pra ver o barco afundando. Hehehe.



Mas – com risada maldosa- bem feito. Construíram a igreja no lugar onde era área do Templo Maior. Sim, sim, também é sabido que essa área era um pântano e a engenharia asteca aterrava, construía templos em cima de templos e agora, mesmo séculos depois, toda pompa, todo poderio que dizimou milhões de nativos, vê suas paredes poderosas, fortes, cedendo a algo que pode ser impiedoso – água!

Sabe-se que os engenheiros estão desesperados para salvar esse monumento fantástico, símbolo do poder temporal de uma religião que ainda domina. O mexicano é antes de tudo, religioso. Mas, convenhamos, outros poderes religiosos aqui estavam. Sangue banhou estas terras em nome e na glória de deuses que queriam se alimentar – sangue e carne. Para tudo há um preço. O México ainda tem isso – transpira força, destemor, guerra, sangue, deuses... deuses exigentes.




A Catedral possui 5 naves e 16 capelas laterais e é considerada a maior construção religiosa de toda a América Latina.
Adentrar na nave principal da catedral dá arrepios. Olhar suas colunas –algumas visivelmente inclinadas – seus altares brilhantes, embora não seja ouro, mas cobre, a grandiosidade, a pompa, faz-nos pensar no esforço de todos aqueles que trabalharam, foram escravizados e sugados até a última gota, lembrando de tantos mortos para manter  essa demonstração de poder em nome da fé.

Altar Mor

Daí eu me pergunto que  deus ou deuses é ou são mais exigentes. Enquanto eles não me respondem, sinto-me tão diminuta diante das colunas, capelas, altares, órgão e aquele canto gregoriano ao fundo anunciando a missa que se desenrola. A voz do sopranino é clara, angelical e me faz lembrar os antigos religiosos que catequisaram esse povo.

Particularmente, tive tempo de observar a religiosidade do povo mexicano. Homens e mulheres simples, traços de seus ancestrais, em pura fé e devotamento, trazem cruzes enfeitadas de rosas naturais, amarradas com uma paciência de Jó, ali, como símbolo de sua fé e pedem, humildemente, que alguma beata as deposite ao pé do altar.


Promessas de mulheres grávidas a São Raimundo Nonato.Adicionar legenda


Na escadaria em mármore do púlpito o artista mexica deixou sua marca, os traços de sua raça nas faces dos anjos.




Estrategicamente, um Jesus Cristo negro – ops, primeira vez que vi que imagem de Jesus na cor negra, com uma saia branca – até então eu só conhecia A Virgem Morena, Maria morena, As Virgens Negras, mas aquele Jesus era diferente e me ocorreu, como bem lembrado pela Io, aqueles pais de santo baianos – com todo respeito. Mas aquele crucifixo ali, apelativo, tem sua função. Todos rezam ali contritos e rendem boas fotos.



Ah, lembrei – há visita ao campanário e instiguei Io a fazer o passeio, já que não me animava a subir aquelas escadas, mas, ao final, fiquei empolgada e fui também, subindo 68 degraus em caracol, ouvindo as explicações do sineiro (tocador dos sinos). Hummmm, aqui os sinos tem nomes. O maior, mais potente, tem nome de Santa Maria de Guadalupe e pesa 13 toneladas, aproximadamente, conforme o folheto fornecido pela Catedral. Esse sino foi fundido por Salvador de la Veja, em 1791. O sino mais antigo chama-se Santa Maria de la Asunción, fundido em 1578, pesando cerca de 7 toneladas. E há até sino que gira 360 graus e era chamado campana punidora por haver acidentalmente matado um tocador de sino. Ah, o sino assassino foi perdoado pelo um vigário e agora é campana perdonada. Vá lá entender a alma do sino.




Andamos pelo telhado da catedral com todas as explicações do tocador de sino, senhor que conhece seu ofício e desfrutamos da vista oferecida de cima, sobre o Zócalo.



Saindo da catedral, o comércio ambulante já estava a todo vapor. Um custo transitar entre tantas lonas jogadas ao chão e exibindo todo tipo de mercadoria: camisetas, livros, chapéus, colares, talismãs, comida, bebidas, objetos de artesanato, incensos, máscaras... 

Como?  Heresia? Grupo de mexicanos, vestidos como seus ancestrais, executam danças ao som  de cantos e tambores. Alguns usam penachos, outros usam sobre a cabeça um tipo de touca com vários animais empalhados, nas pernas amarram pequenos chocalhos que ajudam na dança. Entre eles não poderiam faltar os xamãs com seus banhos, plantas de poder, talismãs, conchas, búzios, fogareiros que usam para um completo serviço de descarrego.






Ah, Zócalo é o coração da cidade. Que importa que se chame Plaza de la Constituición? Ninguém fala isso. Zócalo e pronto. Afinal é Zócalo desde dos imemoriais tempos dos astecas, onde celebravam suas cerimônias e é uma das maiores praças do mundo! Era espaço aberto no centro da capital asteca Tenochtitlán.

Zócalo seria “pedestal” de quê, não sei. Bom, seria de algum monumento que nunca foi feito.
 Em outras palavras, o Zócalo é uma festa!

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