quarta-feira, 29 de maio de 2013

TEOTIHUACÁN - LUGAR ONDE OS DEUSES NASCEM



Segunda feira – por informação do Sr Hugo, corremos para as pirâmides de Teotihuacán. Decidimos ir por conta própria e foi uma senhora aventura com direito a diligência do oeste.
Para contratar uma agência, teríamos um problema. Queríamos tempo para fotografar e não entrar por uma porta e sair por outra. Aliás, as portas são bem longe uma das outras. Nem pesamos o fator dindin que, diga-se, por nossa conta, saiu por 1/3 do preço da agência, sem se falar na aventura que foi apanharmos um metro até a estação Índios Verdes, onde há um terminal de ônibus, vans e tudo que se imaginar, numa verdadeira babel.E para isso não tem preço.

 Mas quem tem boca vai a Teotihuacán. Encontramos um ônibus que já havia saído do ponto, mas o motorista percebendo três turistas patetas, gentilmente parou em meio ao trânsito, abriu a porta e pulamos pra dentro do ônibus. Ônibus? Jizuuuuuuuuuuuuus, a lata velha dava cada solavanco quando o gentil motorista engatava a primeira marcha que nós sentíamos que  a geringonça ia se desintegrar. Mas foi tranquilo. Bastou entrar  na autovia, na carril para lata velha mostrar que ainda dava no couro. Sacolejando, foi-se a Teotihuacán nos levando junto. Tive um acesso de riso imaginando-me fora da lata velha, vendo-a passar toda desengonçada. Importa que chegamos ao nosso destino pela bagatela de 120 pesos, cerca de 24 reais para nós três. (Passagem mais cara para turista).



Quê que é isso? Você desce do ônibus e um enxame de vendedores pula em cima de você oferecendo tudo! Mantas, máscaras, pulseiras de prata (compra pra ver se é prata), bugigangas, calendário asteca, objetos de obsidiana, motoristas de táxi que oferecem para levar ao portão 2, o cacete a pau... E são insistentes! 


E andamos e andamos naquele solão que até Deus duvida. É que cometemos a bobeira de descer no portão 1 e andamos 3 quilômetros sob o sol inclemente. Juro que foi algum pagamento de pecado. Seja! Ainda mais que tanto eu como a Io havíamos tido o mesmo sonho na noite passada. Sonhamos com duas luas. Só que o meu se transformou em algo muito angustiante. Quando as duas luas se encontravam, começava uma destruição do planeta. Eu, hein!? Isso não foi  sonho. Foi pesadelo.

Passamos no museu ali perto. Poucas peças, pois as melhores foram levadas para o Museu Nacional de Antropologia.













Braseiro






Templo da Serpente Emplumada (cidadela de 150-250 d. C.).
Todas as tumbas   associadas a este Templo apresentam características únicas já que se tratam de enterros múltiplos cuja quantidade reflete a importância simbólico-religiosa deste edifício para a sociedade teotihuacana.
Esse conjunto de esqueletos corresponde a um grupo de quatro indivíduos do sexo feminino cuja ornamentação consta de brincos de conchas e colares formados por contas formados do mesmo material.  Parte da oferenda são pontas de projéteis de obsidiana e discos de ardósia colocados na parte posterior, à altura do quadril.
 












Arremate arquitetônico de alabastro. Representa Vênus (planeta) com atributo do deus Tlaloc com viseiras e protetores de ouvido. De sua boca sai uma corrente de água e está    emoldurada por raios.






Colares com imitações de maxilares humanos feitos em conchas encontrados nos enterros associados com o Templo da Serpente Emplumada. Os elementos marinhos representados neste Templo – conchas e caracóis estavam reacionados diretamente com a água.





Escultura que representa o rosto de uma pessoa com deformação facial.O exemplar é um elemento arquitetônico da Calçada dos Mortos.








 Importava que estávamos nos aproximando da pirâmide do Sol, mas a hora  já havia praticamente passado – 12.30h e Carlos já chorando de fome. Ô hômi frouxo" Para não ouvir os resmungos e depois não teríamos onde comer mesmo, procurei saber se havia algum restaurante nas imediações do museu. Indicaram-me, apenas apontado pra fora do parque. No portão do outro lado havia um enxame de empregados de restaurantes fazendo suas propagandas, tomando-lhe pelo braço, quase brigando. 

Inocentemente perguntei a um dos encarregados do portão se nos indicava um restaurante. Ele que acabara de "enxotar" os insistentes propagandistas, falou entre os dentes – fale com a moça, fale com a moça – aaaaaaaarráaaaaaaaaaaaa, tem esquema aqui também , na terra do titio Montzuma.

Puxa, tive que ser até grosseira. Enquanto falava com a moça indicada, um ratito me puxava para seu restaurante. Paaaaaaaaaaaaaara! Me larga!!! Deixei claro que iríamos com a moça e essa deu um assobio.

Bastou isso para que nós três rompêssemos na gargalhada , pois o que nos apareceu foi um carro, tido como taxi, caindo aos pedaços, arrancou com tudo, levantando poeira e parou com uma freada violenta bem diante de nós, como para mostrar que o carro , ops, desculpem, a diligência do oeste estava operante.


Rimos a valer durante todo trajeto até o restaurante, atravessando a pequena cidade de Teotihuacán. 

Imaginávamos que estávamos sendo sequestrados, nunca mais veríamos a civilização, adeus mundo ingrato... e a diligência correndo, ou melhor, serpenteando, bambolejando entre as ruas estreitas até entrar de uma vez em um portão largo, calçado apenas com o que seria nossa brita.

Io caiu de amores pelo restaurante – todo colorido, decoração bem mexicana, plantas para todos os lados.
O difícil foi escolher o que comer e, principalmente, convencer ao povo que preparassem nossos pratos sem pimenta. Ai que fomos saber que pimenta é uma coisa e chili é outra. Pimenta pra mexicano é uma bolinha preta, maior que as bolas de pimenta do reino, com cheiro de cravo da índia. O que chamamos de pimenta, tipo malagueta, é chili e nisso eles são especialistas – há uma variedade enorme de chilis.


Comemos bem e Io ainda deitou numa rede convidativa, mas o inevitável se aproximava. Na verdade era o mais esperado por mim.
Será que eu aguentaria subir na Pirâmide do Sol? Ainda mais agora, de bucho cheio, duas horas da tarde, um sol do cão...
Hora de voltar e dessa vez formos levados pela filha do dono do restaurante em uma camionete moderna que deu o prego de gasolina tão logo dobrou a esquina. Quando o socorro da cavalaria chegou, já estávamos sendo embarcados em um taxi de volta às pirâmides. Aposto que não teríamos esse extra se houvéssemos ido através de uma agência de turismo.

Eu olhava pra pirâmide e a pirâmide me olhava me dizendo – e agora, vai me encarar, gordinha? E eu olhava com inveja o povo que se encontrava no topo da pirâmide.
  



Mas eu não vim aqui pra ficar chorando pitangas na base da pirâmide, né? Fiz minha prece, pedi ao tito Huirachocha que me desse asas, ou será que aqui eu teria que pedir pra uma águia, símbolo do México? Sei lá. Encarei com gosto de gás, passei direto e nem vi o desenho de uma serpente na base , bem onde dá-se início à subida. Só soube dessa serpente depois que voltamos, que o Carlos falou.





Ah, Viva o Carlos. Ele subiu o primeiro lance, numa aposta que ele fez com ele mesmo. Hahahaha

E lá fui eu. Subindo. Subindo. O coração na mão, botando os bofes pra fora, bufando pelo esforço, calor, peso das minhas dobrinhas... confesso que sou sedentária. Mas vamos ver no que vai dar.



Audácia! Um gostosão passou por mim correndo, escalando uma parte em que os degraus são bem em pé. Não deixei por menos e falei pra ele - sou a tartaruga, seu coelho! E lá fui eu. Subia, parava. Nada vergonhoso. Vi muitos jovens e esbeltos bufando, vermelhos que só camarões no alho e óleo. E fui. A cada lance, parava e agradecia por haver chegado ali. Nem olhava pra cima pra não ficar ansiosa.
Quando me vi no último lance, nem acreditei. Só havia à minha frente o que seria o topo, já que essa pirâmide não tem piramidão, mas um tipo de platô onde era colocado o altar de sacrifícos. E o povo lá, esnobando os que estavam láaaaaaaaaaaa embaixo, onde eu estivera até bem pouco tempo.

Não, não sei quanto tempo levei pra chegar ao topo. A essa altura Io chegou junto, botando os bofes pra fora. Depois que nos acalmamos – e a respiração queima – choramos juntas de emoção. Choramos e rezamos por todos aqueles que ali foram sacrificados. Agradecemos todos as dádivas que recebemos. Agradecemos pelo presente de ali estarmos, haver conseguido chegar lá em cima. 








Mas ainda havia o platô. Esse foi mole. Dica : use o vértice da esquerda para subir. As pedras são irregulares e um tênis é a melhor pedida.
Vencemos a última etapa. As pessoas ali disputavam um quase quadrado de cimento que marca o ponto mais central e mais poderoso, onde está uma plaquinha  diminuta de um metal claro, onde se costuma colocar o dedo indicador da mão direita e eleva-se a mão esquerda para o sol, com o rosto voltado para o sol, para a saudação.


Ali estavam esperando a sua vez de fazer a saudação gregos, troianos, mexicanos, franceses, japoneses, brasileiros e piauiense – euzinha! Cada um fazia sua reverência como bem entendia.



O divertido foi ver e ouvir a reverência, que na verdade foi mais um grito de força de um japa. Ao final, todos reverenciavam o sol com os braços levantados, fosse qual fosse a sua nacionalidade.

A visão que se tem do topo é fantástica. A Avenida da Morte à frente, muitas construções ladeando a avenida. Ao fundo, do lado direito, a Pirâmide da Lua. Ao seu lado, o palácio da serpente...







E o lugar onde os deuses nascem continua vibrante. Ali, todos os dias, milhares de pessoas circulam fazendo vibrar a energia. Teotihuacán não morreu. Hoje seu alimento  não é o sangue dos  guerreiros aprisionados, nem mulheres julgadas ou escolhidas, ou de algum infeliz capturado e condenado a ter seu coração arrancado e lançado ao braseiro para que a fumaça leve aos deuses o presente do povo – leia – do rei. Não  precisa  mais que o sangue escorrendo pela ferida aberta pela faca de obsidiana do sacerdote, banhe a pedra do sacrifício como presente aos deuses para que esses, em troca, dêem a chuva ao povo.

Não há deuses guerreiros, com rostos zangados, pavorosos, irados. Não há deusa desejosa de sangue e carne. Hoje há um pensamento de todos que ali acorrem – um pensamento de universalidade, pois ali se reúnem e no inconsciente coletivo está a antiga crença que ali  está o umbigo do mundo, como assim acreditavam outros povos para seus respectivos países.

O umbigo do mundo está onde EU estou!


Deixamo-nos ficar no topo da pirâmide por um bom tempo, aurindo a força que dela emana, afinal os povos antigos não eram tolos, apesar de eu me questionar o por que esse povo veio construir uma cidade e esses monumentos fantásticos em um lugar tão inóspito. Não vi qualquer  rio nas proximidades. A vegetação é de deserto, como a vegetação da caatinga. A terra é árida. Enfim, eles deviam saber mais do que eu, né?

E fiquei lá matutando o porquê de tudo aquilo e por que, do nada, simplesmente abandonaram tudo e Teotihuacán virou lenda até ser descoberta novamente.

À minha esquerda estava o antigo campo de futebol, ou seria melhor dizer quadrilbol? Aqui, como entre os Incas, o time perdedor não apenas perdia. Perdia a cabeça também? Vamos investigar.
Ah, o Capitão do time vencido, perdia a bela e corajosa cabecinha.
Ainda fiquei ali tentando imaginar Montzuma no alto presidindo aos sacrifícios e os sacerdotes, loucos por poder, ensanguentados e abaixo, o povo... será que o povo delirava com os sacrifícios? E os deuses, será que eles se regozijavam? Ou teriam se embebedado tanto que já não atendiam ao rogos e nem aceitavam os presentes?

Interessante que, imersas nesses questionamentos, nem via o tempo passar. Não sentia o sol inclemente, nem sede, nem cansaço, nem senti qualquer desconforto em relação à pressão alta,  nem vontade de ir embora, mas era preciso percorrer todo espaço, ir à Pirâmide da Lua, na outra extremidade.

Descer os degraus não é tão fácil, pois são estreitos e exigem o maior cuidado. Muitas vezes tive que descer um a um para não escorregar. 


Não é difícil transitar pela Avenida da Morte. Difícil é se livrar dos insistentes vendedores. Chegar até a Pirâmide da Lua é uma odisseia, mas conseguimos.
Dessa vez, não quis abusar da sorte e não subi na pirâmide. Só depois observei que os visitantes só podiam ir ao primeiro patamar. Um gentil vendedor me informou que estavam escavando e investigando a parte superior da pirâmide, daí estar fechado à visitação pública. Seja lá como for, agradeci aos deuses que me levaram ao topo da Pirâmide do Sol e seria deselegante pedir mais. Concordam?






Io subiu sozinha e fui esperá-la junto ao palácio que ora está sendo restaurado, também fechado ao público, mas oferecia uma parcial sombra naquele deserto dos deuses.

Deixamos o parque quando os portões já haviam sido fechados mas ainda havia muitos retardatários no topo da Pirâmide do Sol.
A volta para o México foi mais tranquila e em ônibus mais novo e confortável. Encarar a estação Índios Verdes até ficou interessante. 

Chegar ao hotel é que foi QUASE literalmente de quatro, de tão cansada. Só ai tomei consciência do esforço despendido. As pernas se moviam no piloto automático, tesas, duras. Mas SUPER valeu!

Vencida essa etapa, que venha Chi Chen Itzá!

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